Romance Asfixia

Asfixia

No romance Asfixia - o pensamento é tratado como a maior angústia do homem.

Leia mais sobre o romance Asfixia clicando abaixo em: Arquivo do blog / Asfixia.

Romance Soslaio

Soslaio

"As mais incríveis criações do homem, intrigantemente são aquelas ligadas ao campo da inexistência. Impossível combater aquilo que não existe, pois como provar que um coisa que não existe, não existe!"

Leia mais sobre o romance Soslaio clicando abaixo em: Arquivo do blog / Soslaio. Se preferir baixar os arquivos, clique nos links mais abaixo.



Romance Tempestade

Tempestade

"Para o homem que deseja ter uma mulher confiável ao seu lado, só lhe resta uma maneira para ter a certeza que de fato a encontrou; desrespeitando-a!"

Não fique imaginando coisas! Para saber exatamente o que aconteceu com o protagonista e o que o fez pensar assim, você terá que ler o início do romance no arquivo.

Leia mais sobre o romance Tempestade clicando abaixo em: Arquivo do blog/ Tempestade.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Crônica

O encontro

 

G.Néscio estava inquieto, deitou-se no sofá da sala. Pensou num filme para passar o tempo e pegou qualquer um na sua estante. Tentou concentrar-se nas cenas, mas já era uma e trinta da tarde, e como havia dormido pouco na noite anterior, ficou 'pescando' à frente da tevê. Sem comer a mais de quatorze horas, levantou-se assustando pensando em comer qualquer coisa. Abriu a geladeira e lentamente a vasculhou. Na porta havia um único ovo e um pote com um restinho de geléia de damasco, então os colocou por sobre a mesa logo ao lado da geladeira. Mais ao fundo pegou um pedaço de lingüiça calabresa; no armário encontrou um pedaço de pão de mel. Numa panela, por sobre o fogão, pegou um resto de feijão.  Na fruteira encontrou metade de uma maça, ainda possível de ser aproveitada. Jogou tudo no liquidificador junto com um suplemento alimentar que estava esquecido dentro do armário e bateu com um pouco de leite até ficar consistente. Ligou o fogão, untou uma frigideira e colocou tudo para fritar. Comeu com apetite voraz sem saber definir o sabor.

Com as energias restabelecidas, começou a pensar na garota que havia conhecido há apenas dois dias, e concluiu que ali se encontrava o motivo de não ter descansado. G.Néscio a encontrou casualmente numa loja de cd's do shopping próximo ao seu apartamento. Ela despertou sua atenção quando tentava encontrar algum trabalho da Elizete Barroso e de um outro cantor chamado Batatinha, "se não me engano", pensou. As músicas eram da época da avó da garota que não tinha mais que vinte anos. Na loja, ele olhou várias vezes para ela enquanto ouvia aquela música melancólica, e assim que pode disparou um sorriso como se estivesse curtindo a música e a maneira impostada da cantora. Como se houvera encontrado uma mosca branca, ela retribui o sorriso, e então ele aproveitou para puxar assunto.

A garota perguntou a ele se conhecia aquelas músicas, ele respondeu que sim, completando que jamais soubera os nomes dos cantores. A conversa começou a fluir quando o assunto chegou ao ponto em que ele dominava, e comentou então sobre a história de um cantor já falecido que havia feito uma cirurgia plástica no nariz colocando enxertos de carne da bunda. "A música era boa, mas o nariz dele...!" O clima estava leve, e enfim, após algumas horas de um bom papo numa mesa de bar, G.Néscio convidou a garota para ir até o seu apartamento onde dizia possuir vários trabalhos em vinil de bons cantores das décadas de trinta e quarenta. Reforçou dizendo que ouvir aqueles trabalhos no bolachão causava uma sensação incomparável.

Seu jeito tranqüilo de falar deixou a garota confiante de que não corria perigo, mesmo por que ambos já estavam bem alterados pelo álcool. Ela entrou timidamente no apartamento com uma fala mansa. "Tudo muito maravilhoso!", pensou. Pediu a ela para que tirasse os sapatos, enquanto fazia o mesmo; sua intenção era de deixá-la com a sensação de que algo já havia iniciado. Ofereceu a ela uma bebida, que aceitou de pronto.

Lembrou-se exatamente do momento em que se beijaram. Não demorou muito já estavam nus no sofá, assim mesmo sem muita demora e nenhuma frescura. Tentou lembrar-se de detalhes mais sórdidos, mas sua memória falhou. Ficaram trancados no apartamento comendo, dormindo e transando por um dia e meio, regados somente à cerveja. Antes de ir embora ela confessou que apenas conhecia os nomes dos primeiros cantores, e aqueles que citou depois, apenas inventou para saber como ele iria reagir. G.Néscio ficou sem saber o nome da garota e como iria fazer para sair com ela novamente. Pensou que jamais encontrará mulher igual, insaciável. Tudo perfeito, exceto que pelo fato de não conseguir ficar sentado.

 

 

Leia outras crônicas do G. Néscio, clicando ao lado em: Arquivo do Blog / Crônica.

 

           

Asfixia

 

"Ouço minha respiração lenta e profunda antes de abrir os olhos. O ar passando pelas narinas com certa dificuldade, provocando um leve assovio até chegar aos pulmões. Intenso, teso, tenso; é certo. O silêncio me sufoca os pensamentos; no expirar, o ar provocando um som estranho, desavenho penoso. Volto a fechar os olhos e tento controlar a respiração a fim de entender o quê está de fato acontecendo; sem sucesso. Não me lembro de nada! Volto a abrir os olhos. Provável ter adormecido de mau jeito, de uma maneira que não posso sequer tentar explicar, pois, como seria possível explicar o desconhecido? Dormir, assim, incorrigível abandono? Largado? Por certo que fiquei bastante tempo sentado a essa cadeira que, aliás, provou-se muito de inenarrável conforto, mas de uso improvável. Ambíguo. O cansaço indecor oso. Devo ter acordado ao ouvir meu próprio ronco? Acredito que sim, é isso! Devo ter ouvido minha respiração um pouco antes, ainda dormindo, numa sensação de alívio súbito por poder voltar à consciência! Sim! Foi isso! Recordo-me real, ronco acompanhado de uma respiração profunda, conforto alienante. Mas do quê isso importa? Permaneço por não saber onde estou! Ao olhar a minha volta não consigo identificar o lugar. Permaneço assustado. Talvez nem tanto! O subconsciente não costuma nos permite saber o quanto estamos assustados! Paredes de vidro me separam de outros ambientes, salas vazias, lugar frio, sub-reptício. Pequenos televisores de monitoramento cercam-me. Sinto-me atado, apesar de estar com os braços livres. Sentado à cadeira, consigo ligar os botões de um centro de monitoramento na mesa a minha frente; o que vejo são imagens das mesmas salas vazias. Logo adiante as vejo direta, mas agora, com as suas luzes acessas, posso vê-las, imó veis admoestadoras. Monitores oculares. Vídeos inócuos. Insipientes. Reconheço-me ao fundo de um desses monitores. Tela viva. Vejo um espelho a minha esquerda. Aproximo-me e percebo indícios de que eu tenha dormido por muito mais tempo do que imaginara. No meu rosto, sagazes marcas. Provável ter adormecido por sobre o meu braço direito, que dormente, reluta em voltar ao normal. Rescaldo. Os sulcos grossos da blusa de lã ficaram fincados na pele, uma leve dor de cabeça lenta surge, e começa a me atordoar o raciocínio. Teso. Lento. Sentado a uma cadeira num lugar estranho, decompondo. Contraditório. Estro. Um sofá logo atrás de mim com aparência de novo, porém leve empoeirado, possível ato realizado pela falta de uso. Sustento pendido indagado refluxo imaginário. Tudo a minha volta parece um pouco abandonado. Essa exposição ao tempo, apesar do lugar parecer hermética inacessível, insuficiente para preservar coisa alguma. Apesar de a sala estar pr� �tica vazia, não é possível perceber nenhuma reverberação através do som seco da minha voz, inflexo regorjeio."

-- Ah! Ah!

"Árido. Descarnado. Sequioso oxigênio. As imagens externas me mostram um lugar bucólico, apesar de tanto concreto, ferro e vidro por salas sisudas, vida mórbida vida. Após esse silêncio, não resisto. Sem me levantar, empurro a cadeira repleta de pequenas rodinhas, movimento do abandono de si mesmo. Aproximo-me de uma das paredes recobertas por pedra e madeira."

-- Ah! Ah!

"Obtuso. Coloco as mãos na boca como a formar uma espécie de concha sonora por volta dos lábios. Os gritos reproduzem um som ainda mais seco. Anti-sala. Sub-medo. Nenhuma reverberação aparente. O lugar real parece ter ficado muito exposto ao tempo dos dias e das horas ácidas. Nada diferente de qualquer lugar repleto de prédios num simulacro de ar puído. Fruição. A poeira fina espalhada pelos poucos móveis demonstra que pouco ficou ao relento, mas ainda assim, o tempo dá a suas cartas, leva com o vento inebriado através das fendas, a vida. Pequenos fragmentos desses dias crassos, águas tortas de uma pseudochuva. Cadafalso."

            "O oxigênio; riste do tempo, inexorável."

"Uma mosca quebra o silêncio ao passar de um lado para o outro, vôo rasante próximo aos meus ouvidos, se fez notar zombeteira."

"Deve ter entrado nessa sala ao mesmo instante que entrei?"

"Súbita dei-me conta de não saber sequer como entrei. Onde estou? Provável essa mosca permaneceu aqui dentro pelo o mesmo tempo que eu! As mesmas horas! Os mesmos minutos! Utilizando-se desse mesmo ar desgastado. Molagem. Lúbrico. Palavras sem importância."

-- Ah! Ah!

"Nova percebo a ausência de reverberação, alitero."

"Na mente, qualquer coisa se faz presente, ao perceber a ausência do inexistente."

 "Riso ácido!"

"Que lugar seria esse? Nenhum sinal de vida? Sinto-me como se houvesse alimento de mim mesmo."

"Mal dizer do óxido triunfante!"

"Ouço passos no corredor. Atento. Eletrizado. Parado. Contraditório. Petrificado. Perplexo. Estarrecido."

"Nem imagino os motivos de estar aqui. Agora, quem caminha lenta em minha direção? Permaneço consciente de que não estou amarrado, ainda assim sinto-me preso, permaneço imóvel."

"Agora, que não estou mais sozinho, é que não me levanto mesmo! Permaneço calado. Sequioso. Sequer tenho coragem fazer alguma pergunta. Tentar espichar o pescoço para ver quem lenta se aproxima, nem quero. Tento não aparentar desespero. Inútil. Em silêncio, meu corpo vivo; treme, grita. Respira."

"Respirar... é o caminho da queda."

 

Riso sarcástico.

 

-- Não se preocupe! Nesse mundo... tudo oxida! -- uma voz rouca chega antes de o corpo se apresentar à frente de Você.

 

 

_________________________________

 

 

Este é o mais novo romance de Rogério Zaos, em processo de criação. O personagem principal é Você. Isso mesmo! O leitor assume o papel de protagonista, e como habitualmente acontece com qualquer leitor, desconhece por onde e para onde serão engendrados os acontecimentos. Nada muito diferente da nossa realidade de simples mortais, pois nunca sabemos do dia de amanhã, do minuto seguinte. Nesse romance, Você acorda sem saber quem é? Sem saber onde está? Você terá a oportunidade de descobrir a si mesmo, mas será que isso é realmente possível?