Romance Asfixia

Asfixia

No romance Asfixia - o pensamento é tratado como a maior angústia do homem.

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Romance Soslaio

Soslaio

"As mais incríveis criações do homem, intrigantemente são aquelas ligadas ao campo da inexistência. Impossível combater aquilo que não existe, pois como provar que um coisa que não existe, não existe!"

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Romance Tempestade

Tempestade

"Para o homem que deseja ter uma mulher confiável ao seu lado, só lhe resta uma maneira para ter a certeza que de fato a encontrou; desrespeitando-a!"

Não fique imaginando coisas! Para saber exatamente o que aconteceu com o protagonista e o que o fez pensar assim, você terá que ler o início do romance no arquivo.

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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Crônica

            A Pochete

 

            G. Néscio sempre foi uma pessoa muita avoada. Na escola, quando criança, vivia perdendo canetas, lapiseiras, cadernos; um dia chegou a esquecer em algum lugar do colégio o par de tênis; nesse dia voltou para casa descalço.

            Na empresa em que trabalha, uma grande revista de moda da capital paulista, G. Néscio perdeu o seu computador portátil. Deixou o aparelho numa pequena pasta encima de uma mesa, depois de uma reunião com formadores de opinião do mundo da moda. Junto com o computador estava um aparelho celular último lançamento e uma foto de grande valor sentimental da sua infância. Cansado de perder coisas importantes, decidiu que estava na hora de fazer alguma coisa.  

Depois de várias tentativas de mudança do seu comportamento, com ações preventivas utilizando bolsas, mochilas, pastas, maletas e outras coisas mais, G. Néscio enfim, encontrou, mesmo que a contra-gosto, um jeito eficaz de transportar seus pequenos pertences e documentos; uma execrável, horripilante, impronunciável; pochete. A utilização desse acessório, de acordo com especialistas do mundo da moda, enquadra-se no inafiançável crime hediondo do 'fora da casinha'. A história toda causou muito boato na revista, mas com o tempo as pessoas acabaram por se acostumar.

Feliz e autoconfiante com sua decisão, G. Néscio pode enfim relaxar, dispondo de mais tempo para cuidar de coisas que considerava mais importante. Sua vida mudou de fato, e começou a sair com muitas mulheres, "mulheres firmes e resolvidas que não negavam fogo", ele acredita. Freqüentando a loja de bolsas e pochetes, ficou íntimo da vendedora, e assim, começou um namoro, desde então a garota não mais saiu da sua companhia. Foram três anos de pura alegria alienada, desconcertante felicidade de um relacionamento como outro qualquer. G. Néscio jamais voltou a perder seus pertences, absolutamente nada. Tudo estava sob o seu controle, exceto a voragem animalesca da sua namorada, que consumia os seus pensamentos e tudo mais; a garota o deixou viciado na felação constante, ponto mais elevado desse relacionamento. A cada encontr o não dispunham de outro recurso de idéia; quando juntos, raramente conversavam.

Numa manhã de domingo, ela voltava da padaria, quando com a mais digna vontade de agradá-lo, comprou na banca da esquina uma revista de moda que estava escrito; "O uso da pochete!". Assim que chegou ao apartamento, ele ainda estava dormindo, ela começou a folhear a revista, ficou indignada frente às criticas quanto ao uso do acessório; "a mais pura aberração", "a maior prova da cafonice humana", "desclassificável e deselegante".

Aturdida pelas palavras ásperas, ela se perguntava como pode por tanto tempo sair com um homem que se enquadrava nesses crimes. Ao acordar, ele gritou o nome da namorada, e ficou sem resposta. Levantou-se, e enquanto tentava entender o que poderia ter acontecido, pegou a revista no chão, e leu a matéria de capa. "Que se dane!", rosnou. Após quinze minutos, a namorada entrou no apartamento com lágrimas nos olhos, pegou a revista e perguntou em tom de novela mexicana; "Você sabia disso!". "Que se dane!", ele enfatizou. "Pois bem! Ou você para de usar esse troço, ou nunca mais saio com você!", gritou a mulher. "Que se dane!", falou em tom manso e lento para enfatizar o seu descaso.  

Depois de quatro meses, ele ficou sabendo que ela já estava com outro cara, isso só aumentou sua tristeza. Nesse dia, caminhou pela cidade deprimido e bêbado, parou em vários lugares, sem nada dizer a ninguém. Sentou-se no banco de uma praça, encostou a cabeça num canto qualquer e caiu no sono. Levantou-se na manhã do dia seguinte com a cabeça estourando, caminhou lentamente até chegar ao apartamento. Sentou-se no sofá e riu desenfreadamente ao perceber que, enfim, perdera a pochete. 

 

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            Asfixia

 

"Ouço minha respiração lenta e profunda antes de abrir os olhos. O ar passando pelas narinas com certa dificuldade, provocando um leve assovio até chegar aos pulmões. Intenso, teso, tenso; é certo. O silêncio me sufoca os pensamentos; no expirar, o ar provocando um som estranho, desavenho penoso. Volto a fechar os olhos e tento controlar a respiração a fim de entender o quê está de fato acontecendo; sem sucesso. Não me lembro de nada! Volto a abrir os olhos. Provável ter adormecido de mau jeito, de uma maneira que não posso sequer tentar explicar, pois, como seria possível explicar o desconhecido? Dormir, assim, incorrigível abandono? Largado? Por certo que fiquei bastante tempo sentado a essa cadeira que, aliás, provou-se muito de inenarrável conforto, mas de uso improvável. Ambíguo. O cansaço indecoroso. Devo ter acordado ao ouvir meu próprio ronco? Acredito que sim, é isso! Devo ter ouvido minha respiração um pouco antes, ainda dormindo, numa sensação de alívio súbito por poder voltar à consciência! Sim! Foi isso! Recordo-me real, ronco acompanhado de uma respiração profunda, conforto alienante. Mas do quê isso importa? Permaneço por não saber onde estou! Ao olhar a minha volta não consigo identificar o lugar. Permaneço assustado. Talvez, nem tanto! O subconsciente não costuma nos permitir muita coisa, saber o quanto estamos assustados?! Paredes de vidro me separam de outros ambientes, salas vazias, lugar frio, sub-reptício. Pequenos televisores de monitoramento cercam-me. Sinto-me atado, apesar de estar com os braços livres. Sentado à cadeira, consigo ligar os botões de um centro de monitoramento na mesa a minha frente; o que vejo são imagens das mesmas salas vazias. Logo adiante as vejo direta, mas agora, com as suas luzes acessas, posso vê-las, imóveis admoestadoras. Monitores oculares. Vídeos inócuos. Insipientes. Reconheço-me ao fundo de um desses monitores. Tela viva. Vejo um espelho a minha esquerda. Aproximo-me e percebo indícios de que eu tenha dormido por muito mais tempo do que imaginei. No meu rosto, sagazes marcas. Provável eu caí no sono por sobre o meu braço direito, adormecido, reluta em voltar ao normal. Rescaldo. Os sulcos grossos da blusa de lã ficaram fincados na pele, uma leve dor de cabeça lenta surge, e começa a me atordoar o raciocínio. Teso. Lento. Sentado a uma cadeira num lugar estranho, decompondo. Contraditório. Estro. Um sofá logo atrás de mim com aparência de novo, porém leve empoeirado, possível ato realizado pela falta de uso. Sustento pendido indagado refluxo imaginário. Tudo a minha volta parece um pouco abandonado. Essa exposição ao tempo, apesar do lugar parecer hermética inacessível, insuficiente para preservar coisa alguma. Apesar de a sala estar prática vazia, não é possível perceber nenhuma reverberação através do som seco da minha voz, inflexo regorjeio."

-- Ah! Ah!

"Árido. Descarnado. Sequioso oxigênio. As imagens externas me mostram um lugar bucólico, apesar de tanto concreto, ferro e vidro por salas sisudas, vida mórbida vida. Após esse silêncio, não resisto. Sem me levantar, empurro a cadeira repleta de pequenas rodinhas, movimento do abandono de si mesmo. Aproximo-me de uma das paredes recobertas por pedra e madeira."

-- Ah! Ah!

"Obtuso. Coloco as mãos na boca como a formar uma espécie de concha sonora por volta dos lábios. Os gritos reproduzem um som ainda mais seco. Anti-sala. Sub-medo. Nenhuma reverberação aparente. O lugar real parece ter ficado muito exposto ao tempo dos dias e das horas ácidas. Nada diferente de qualquer lugar repleto de prédios num simulacro de ar puído. Fruição. A poeira fina espalhada pelos poucos móveis demonstra que pouco ficou ao relento, mas ainda assim, o tempo dá a suas cartas, leva com o vento inebriado através das fendas, a vida. Pequenos fragmentos desses dias crassos, águas tortas de uma pseudochuva. Cadafalso."

            "O oxigênio; riste do tempo, inexorável."

"Uma mosca quebra o silêncio ao passar de um lado para outro, vôo rasante próximo aos meus ouvidos, se fez notar zombeteira."

"Deve ter entrado nessa sala ao mesmo instante que entrei?"

"Súbita dei-me conta de não saber sequer como entrei. Onde estou? Provável essa mosca permaneceu aqui dentro pelo o mesmo tempo que eu! As mesmas horas! Os mesmos minutos! Utilizando-se desse mesmo ar desgastado. Molagem. Lúbrico. Palavras sem importância."

-- Ah! Ah!

"Nova percebo a ausência de reverberação, alitero."

"Na mente, qualquer coisa se faz presente, ao perceber a ausência do inexistente."

 "Ácido!"

"Que lugar seria esse? Nenhum sinal de vida? Sinto-me como se houvesse alimento de mim mesmo."

"Mal dizer do óxido triunfante!"

"Ouço passos no corredor. Atento. Eletrizado. Parado. Contraditório. Petrificado. Perplexo. Estarrecido."

"Nem imagino os motivos de estar aqui. Agora, quem caminha lenta em minha direção? Permaneço consciente de que não estou amarrado, ainda assim sinto-me preso, permaneço imóvel."

"Agora, que não estou mais sozinho, é que não me levanto mesmo! Permaneço calado. Sequioso. Sequer tenho coragem de fazer alguma pergunta. Tentar espichar o pescoço para ver quem lenta se aproxima, não quero. Tento não aparentar desespero. Inútil. Em silêncio, meu corpo vivo; treme, grita. Respira."

"Respirar... é o caminho da queda."

 

Sarcástico.

 

-- Não se preocupe! Nesse mundo... tudo oxida! -- uma voz rouca chega antes de o corpo se apresentar à frente de Você.

 

 

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Este é o mais novo romance de Rogério Zaos, determinado por sua polifonia, que está em processo de criação e estruturção das vozes. Repare que na primeira pessoa não existe a articulação dos advérbios, ocasionando um efeito interessante. O personagem principal é Você. Isso mesmo! O leitor assume o papel de protagonista, e como habitualmente acontece com qualquer leitor, desconhece por onde e para onde serão engendrados os acontecimentos. Nada muito diferente da nossa realidade de simples mortais, pois nunca sabemos do dia de amanhã, do minuto seguinte. Nesse romance, Você acorda sem saber quem é? Sem saber onde está? Você terá a oportunidade de descobrir a si mesmo, mas será que isso é realmente possível?

 

 

 

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