Encerrei, em maio de 2011, uma fase importante da minha carreira como escritor; eu encerro essa primeira fase, com a conclusão do meu quarto romance - Rescaldo. Ser um contador de histórias não é missão muito fácil, e, simplesmente ter o que contar; não se mostra ser o suficiente; é preciso possuir uma miríade de coisas das quais, muitas vezes, desconheço seu real significado e importância, e assim, continuo seguindo esse caminho, tão árduo quanto maravilhoso, onde o que me é revelado; mostra-se tão maravilhoso quanto o que ainda está no desconhecido.
Com o primeiro romance Soslaio, eu percorri por ruas sinuosas e ameaçadoras; a memória e o tempo foram desfragmentados em seu sentido habitual, para o leitor, fica a vaga sensação de um tema que trata do imponderável, do inteligível, do inalcançável; como temas centrais do livro de uma história sem tempo. Em Tempestade, eu trato da loucura humana que busca encontrar a si mesmo através do outro, do ser humano na sua falta de auto-conhecimento, surgem assim, iniquidades imensuráveis e inatingíveis, a morte é apenas o início dessa imensidão da qual desconhecemos, que é, em si mesma, a própria maneira como vivemos, transferindo e sobrepondo nossos desejos e frustrações através da imagem de um outro ser. No romance Asfixia, facilmente se encontra o desespero do homem que acredita que é possível um mundo melhor, e que ao lançar-se nessa busca, perde-se totalmente dos seus valores, e num vazio de desesperança, diante daquilo que encontra no outro -- nada mais que um espelho de si mesmo -- está o desespero. Asfixia é o próprio pensamento, e o pensamento é, senão o inexistente, que persiste de maneira eloquente em passar de simples idéia, a uma pseudoconcretude, num mundo que não passa de irreal do solipsismo humano. Através da ação, o homem cria suas dissonâncias, recria o próprio mundo a sua imagem e semelhança; se o inferno é aqui, na Terra, o homem não passa de mero criador desse inferno, tanto quanto vítima de si mesmo. Rescaldo conclui essa fase obscura do pensamento e do incons ciente, escura e sombria as ambiguidades humanas; um pai que abandona os filhos em nome de uma ideia de que, o crescimento e o amadurecimento apenas existirão no desafio de encarar a própria existência, diante das próprias realidades a que todos estão envoltos com seus demônios, medos e crenças. Rescaldo é a própria circunferência da vida, o eterno retorno de Nietzsche, é a própria inutilidade dos esforços humanos relatado por Hemingway em O Sol Também se Levanta. Rescaldo se mostra importante, no quanto; deixar-se viver, é mais importante do que um simples entender dos fatos. Descartes que me desculpe, mas se eu 'penso, logo não existo!'. A vida não segue no pensamento, segue na ação, independente do que o homem acredita ou deseja, a vida acontece na matéria, onde tudo de fato se realiza; a vida não é pensamento. Mas infelizmente é no pensamento que o homem inicia a pratica do mal em nome da verdade, onde mata em nome de Deus, fere em nome da justiça, proibi a fim de obter controle, permiti a fim de envaidecer-se.
Disfunção do tempo, distopia do pensamento, o inexistente e a ação, as relações entre um pai e seus filhos, a incompreensão do silêncio, as competições entre os seres, a conquista do bem através do mal, a figura distante de Deus, o homem que quer ser Deus, a mulher como propriedade do homem, o círculo vicioso da vida, o eterno retorno, a vida numa visão periférica, a falta de auto-conhecimento dos homens; tantas coisas relatadas em tão pouco tempo, isso tudo me faz pensar que, se continuo a escrever, o faço a fim de ficar distante, impessoal, mas ao fazê-lo, tudo o que consigo é um pouco mais de proximidade, de conhecimento do que de fato penso que sou; e isso não mais me assusta, mas... o que fazer com tudo isso? Desnecessário pensar; é óbvio, mas ainda assim, tento obter uma resposta. A vida se faz ur gente, pulsa independente dos nossos valores de sentido, das nossas atribuições; a vida segue... soberana!